Focado

“Você sempre é apenas tão bom quanto a sua última curva” André Lotterer

Ele abre a janela do passageiro, começa a preparar a ultrapassagem na estreita sinuosidade e encoraja o ciclista esportivo: “Vamos, força!” André Lotterer está subindo em direção à sua curva favorita nos Alpes Marítimos Franceses. Lá ele quer fotografar o Porsche Panamera Turbo S E-Hybrid em um pequeno acostamento. No primeiro plano, o esportivo na cor Giz com suas pinças de freio em Acid Green. Ao fundo, como um cenário deslumbrante, o Principado de Mônaco, o país que André Lotterer (38 anos) adotou como seu.

“Com a câmera na mão, sou tão ambicioso e autocrítico quanto no carro de corrida” André Lotterer

Ele estaciona o Panamera e desce do carro. Com 1,84 metro de altura, vestindo uma camisa azul-clara, jeans escuros, tênis brancos e óculos de sol de piloto espelhados, ele segura na mão esquerda sua câmera Leica M6, ano de fabricação 1984. Lotterer olha pelo visor da câmera fotográfica analógica, recua alguns passos e foca o Panamera novamente. Quando tinha 13 anos de idade, seu pai, um entusiasmado fotógrafo amador, deu-lhe de presente sua primeira câmera, uma Minolta. Desde então, Lotterer vê o mundo através da objetiva e fotografa. Não digitalmente e com cartão de memória, mas com filmes que ele tem que inserir na câmera e depois mandar revelar em laboratório. “Fotos feitas de forma analógica trazem mais vida consigo, contam histórias mais interessantes, são ao mesmo tempo mais atemporais e mais autênticas”, diz ele, baixando a câmera e apontando para a frente em direção a Fontvieille. Lá, onde ele mora desde 2011, no bairro situado mais ao sul de Mônaco.

Há algumas horas ele ainda estava praticando ioga em seu apartamento no oitavo andar, junto com amigos, sob instruções de sua companheira Takako (33 anos). Eles se conheceram em 2014 no país dela, o Japão. Atualmente, a consultora de marcas mora com o piloto de Fórmula E e o labrador Max, alternadamente em Mônaco e na Bélgica. Entre 2003 e 2018, o piloto viveu em Tóquio, onde correu com sucesso na série Super Fórmula, que, na época, se chamava Fórmula Nippon, e no Campeonato Super GT. “Os japoneses me receberam de braços abertos, vivi anos maravilhosos lá, com pessoas muito corretas e educadas.”

“É a mistura de tecnologia e precisão que me fascina na fotografia” André Lotterer

Fotografia e corridas têm em comum o fato de que é sempre preciso focar o objetivo. De seu pai, um peruano nativo, André Lotterer aprendeu desde cedo que “quanto mais focado você tem o seu objetivo, mais cedo você o alcançará.” Seu pai começou a montar uma equipe de corrida na Bélgica quando André ainda era criança. Com sete anos de idade o pai permitiu que ele dirigisse um kart, depois de o filho ter falado desde os cinco anos que queria se tornar piloto de corridas. Com oito anos André venceu sua primeira corrida. “Meu pai disse: se você realmente quer fazer isso, então não faça sem convicção, mas empenhe-se. Corridas são um esporte caro, se vamos começar aqui e hoje, então vamos chegar à Fórmula 1”, conta Lotterer. Em 2009 seu pai faleceu com câncer. “Tivemos a chance de nos despedirmos dele longa e intensamente. Sou muito grato por isso.”

André Lotterer não decepcionou seu pai e conseguiu chegar até a Fórmula 1. Primeiro como piloto de testes em 2002; sua estreia nas corridas foi em 2014, em Spa. O pai o ensinou a sempre estabelecer exigências altas, “pois você sempre pode fazer melhor. Nunca se deve parar de trabalhar em si mesmo para melhorar. Autocrítica é tão importante quanto autoconfiança.” Nesse sentido, Ayrton Senna e Jacky Ickx também são um exemplo para Lotterer. Há 30 anos, Senna era enfeite de seu capacete de kart como figura de história em quadrinhos. O belga Ickx é para Lotterer o herói vivo. Recentemente ele decorou um de seus capacetes com uma faixa branca na parte inferior, inspirado no design do capacete de Ickx, hoje com 74 anos de idade. Quando há algum tempo encontrou Ickx no circuito de Laguna Seca, ele tirou uma foto em preto e branco de seu ídolo e postou no Instagram. Com o seguinte texto: “#jackyickx”. Não é preciso dizer mais nada.

Antes das corridas, Lotterer gosta de se recolher e tirar um tempo para seu hobby. “Frequentemente viajo alguns dias antes para captar momentos bonitos. Fotografar é perfeito, porque posso desligar, esquecer tudo em volta, superar a diferença de fuso horário e liberar a mente.” Em certos dias ele pega suas câmeras, sai com um de seus quatro Porsche antigos, dá uma volta pela região, para e fotografa seu carro. É a mistura de tecnologia e precisão, diz ele, que o fascina na fotografia. Ela lembra o automobilismo: “Com a câmera na mão, sou tão ambicioso e autocrítico quanto no carro de corrida.” Para mim uma foto nunca é perfeita, estou sempre tentando fazer outra melhor. É como com uma curva. Sempre há potencial para melhorar, nunca se entra cem por cento perfeito em uma curva.” É nesse parâmetro que André Lotterer se enquadra.

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