“Sem dúvida, um Porsche genuíno”

Oliver Blume, diretor da Porsche, fala sobre o Taycan, as chances da eletromobilidade e o futuro da empresa.

  

Porsche Taycan Turbo
Consumo de energia (combinado): 26,0 kWh/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 0 g/km

Porsche Panamera 
Modelos E-Hybrid
Consumo de combustível (combinado): 3,3–2,6 l/100 km 
Consumo de energia (combinado): 18,1–16,0 kWh/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 76–60 g/km
Classe de eficiência energética: A+ 

Porsche Cayenne Coupé
Consumo de combustível 
urbano: 11,7–11,6 l*/100 km
rodoviário: 8,0–7,9 l*/100 km
combinado: 9,4–9,3 l*/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 215–212 g*/km
Classe de eficiência: D 
* a margem de consumo depende do conjunto de pneus utilizado

Porsche 911 GT3 RS 
Consumo de combustível
urbano: 19,0 l/100 km
rodoviário: 9,8 l/100 km
combinado: 13,2 l/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 303 g/km
Classe de eficiência: G 

Porsche 911 GT2 RS 
Consumo de combustível
urbano: 18,1 l/100 km
rodoviário: 8,2 l/100 km
combinado: 11,8 l/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 269 g/km
Classe de eficiência: G 

Porsche 911 Speedster 
Consumo de combustível
urbano: 20,6 l/100 km
rodoviário: 9,9 l/100 km
combinado: 13,8 l/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 317 g/km
Classe de eficiência: G 

Porsche Taycan Turbo S
Consumo de energia (combinado): 26,9 kWh/100 km
Emissões de CO2 (combinado): 0 g/km

Porsche Taycan Turbo 
Consumo de energia (combinado): 26,0 kWh/100 km 
Emissões de CO2 (combinado): 0 g/km

(Dados de 10/2019)

Senhor Blume, um automóvel cuja energia propulsora não provém de combustíveis, mas de células de baterias – ainda pode ser visto como um Porsche genuíno?

(rindo) Você ainda não dirigiu o Taycan, senão não teria sequer imaginado uma pergunta dessas.

Então o senhor já teve alguma experiência com o Taycan?

Muitas. Ensaios rodoviários são essenciais durante o desenvolvimento, para o aprimoramento de produtos.

Sua impressão?

Sensacional! Sem dúvida, um Porsche genuíno. Ele é extraordinário em todas as situações. E não deve nada ao 911. Além da arrancada, sobretudo seu dinamismo é cativante. Com o Taycan, a eletromobilidade vai se tornar mais fascinante e emocionante.

O que o Taycan consegue que outros não conseguem?

No segmento de carros esportivos elétricos, não há nada comparável a ele.

O que isso significa concretamente?

Desempenho rodoviário a nível de um superesportivo. Aceleração reproduzível sem perda de potência. Aptidão para percursos longos. Conectividade de última geração. Um design excepcional – fora e dentro do carro. E o espírito esportivo que só um Porsche possui.

E quais são as inovações técnicas que fazem a diferença?

Várias. O Taycan é o primeiro veículo fabricado em alta escala para uma tensão de sistema de 800 volts, ao invés dos 400 volts de outros carros elétricos. A capacidade total da bateria de íons de lítio é de 93 kWh. Assim, ele não é só “mais um” carro elétrico novo na praça, muito menos um dispositivo inteligente sobre quatro rodas. Ele é o Porsche entre os esportivos elétricos. 

O que lhe dá tanta convicção?

A tradição e a experiência de décadas. A interseção perfeita do esporte automobilístico com a aptidão para o uso diário. E, não por último: nosso papel na criação inovadora de motores híbridos e elétricos. Com o Panamera S E-Hybrid, a Porsche apresentou em 2013 o primeiro híbrido plug-in do segmento de luxo do mundo, e com o 918 Spyder, um superesportivo altamente inovador. E então seguiu o Porsche 919 Hybrid, o laboratório de pesquisa mais veloz e o carro de corrida da Porsche mais complexo de todos os tempos. Com ele, conquistamos três vezes consecutivas o título do campeonato de resistência para carros esportivos. O 919 Evo, um modelo com técnica incrementada, correu Nordschleife de Nürburgring em incríveis 5:19,55 minutos. Chega a ultrapassar o poder da imaginação! Aliás: Ferdinand Porsche já desenvolveu no fim do século XIX o motor elétrico para cubo de roda.

Tudo isso está no Taycan?

Ele é a consequência disso tudo.

Michael Mauer, chefe do departamento de Design, afirma que o Taycan, no geral, redefiniria também a arquitetura de veículos puramente elétricos.

Pode-se dizer que sim. A tarefa dele e de sua equipe consistia em conceder ao Taycan um visual que fosse reconhecido de imediato como um Porsche, mas, ao mesmo tempo, diferenciando-o dos outros modelos. Eles foram muito bem-sucedidos nessa tarefa. Como se vê, as proporções do Taycan são típicas de um Porsche e únicas.

With its design language, the Taycan sets a benchmark for Porsche design of the future.

Outros fabricantes do segmento de luxo ingressam na era da eletromobilidade com um SUV, e a Porsche o faz com um sedã esportivo. Por quê?

Há três motivos. Primeiro, a marca Porsche é sinônimo, por tradição, de carros esportivos – isto é, da silhueta plana. Com nosso primeiro modelo 100% movido a eletricidade queremos nos posicionar bem próximos à essência da marca – tanto em relação à experiência de direção, como ao aspecto visual. O segundo ponto é que o sedã tem vantagens aerodinâmicas, comparado com um SUV. Isso acaba beneficiando a autonomia. O Taycan tem atualmente o melhor coeficiente aerodinâmico de nossos esportivos. E, terceiro: as baterias instaladas no piso da carroceria possibilitam um baricentro bem baixo. No caso do Taycan, mais baixo ainda do que no 911. Isso pode ser notado na dinâmica veicular. 

Os fabricantes de veículos tradicionais estão cada vez sob pressão: de novos concorrentes e da política. A eletromobilidade é mais um risco do que uma chance, ou o contrário?

Com toda certeza, é uma missão e uma chance.

Olhando para os propulsores do futuro sem poluição local com emissões de CO2, há somente três tecnologias: eletromobilidade, hidrogênio e combustíveis sintéticos. A Porsche fez sua escolha.

Por um bom motivo. Na abordagem well to wheel – portanto, na cadeia completa de impactos da mobilidade – um eletromóvel é cerca de três vezes mais eficiente do que um carro movido a hidrogênio e seis vezes mais eficiente do que um veículo movido a combustíveis sintéticos. Mesmo contemplando também a produção de baterias, a relação ainda é de um para dois em relação ao hidrogênio e de um para três na comparação com os combustíveis sintéticos. Com a evolução das baterias, essa vantagem tende a aumentar. Para um fabricante de carros esportivos como a Porsche, os argumentos são convincentes – sem desconsiderar os fantásticos dados de potência que também podem ser alcançados por um motor elétrico.

Mas uma pegada neutra de fato só pode existir se a eletricidade provir 100% de fontes regenerativas.

Isso é verdade.

Esportivos com motores possantes, SUVs pesados – a Porsche também é alvo dos debates climáticos. Dizem que o fato de um Porsche ser movido a eletricidade não quer dizer que ele seja do bem.

Com sinceridade? Nós fabricantes somos responsáveis pela redução das emissões no tráfego. Se quisermos alcançar valores de sustentabilidade a longo prazo, temos o dever de não apenas compreender a relação entre vantagens econômicas e benefícios para seres humanos e meio ambiente, mas de cumprir a demanda de uma sociedade com uma consciência social e ambiental cada vez mais forte.

O senhor conhece o termo “Rekkeviddeangst”?

Não propriamente.

É norueguês e significa literalmente “medo de não chegar” – aquela sensação desconfortável de ficar parado com uma bateria vazia. Com a Ionity, uma joint venture da BMW, Daimler, Ford e o Grupo Volkswagen com a Porsche e a Audi, serão instalados até o final de 2020 cerca de 400 parques de recarga nos principais eixos rodoviários na Europa. Problema resolvido?

Em percursos longos, a mobilidade elétrica só ganhará adeptos com as redes de recarga ultrarrápida de alta tensão. Isso é importante para tornar a eletromobilidade interessante para a maior parte da população. Quanto à infraestrutura abrangente, precisamos de mais empenho. Se a esfera política encara a proteção climática a sério, deve agir rapidamente e tomar decisões corajosas, criando condições básicas e estáveis a longo prazo. E isso não só na Alemanha, mas no mundo todo. Necessitamos urgentemente de um plano de ação global que sirva de norte a todos.

Uma revista escreveu: justo a Porsche está convergindo radicalmente para a eletromobilidade, como nenhum outro fabricante de veículos alemão.

Você não espera de mim que eu conteste isso.

Sente orgulho?

Confirmação. Temos uma estratégia clara e determinada, e o primeiro passo é larguíssimo. Para nós, o Taycan é a arrancada de uma campanha pró-eletromobilidade. Estamos promovendo no momento a maior remodelação da história de nossa empresa – em nossas séries de modelos, nas fábricas, em nossas cabeças.

O que isso quer dizer precisamente?

Até 2022 investiremos seis bilhões de euros na mobilidade elétrica. Para a dimensão de nossa empresa, isso é uma fortuna. Graças ao Taycan e ao Cross Turismo, Zuffenhausen está gerando 1.500 novas vagas para funcionários. Além disso, fabricamos nossos carros esportivos elétricos em Zuffenhausen com pegada 100% neutra de CO2.

“Em percursos longos, a mobilidade elétrica só ganhará adeptos com as redes de recarga ultrarrápida de alta tensão” Oliver Blume

A Porsche também abandonou o diesel…

… para podermos nos concentrar em nossas competências-chave. 

E quais seriam elas?

No conjunto motopropulsor, apostamos na tríade composta por motores a gasolina otimizados, híbridos plug-in e esportivos 100% elétricos. Para os próximos dez anos, esta é a resposta estratégica certa para a mudança sistêmica em nossa indústria. Com isso, estamos muito bem posicionados e temos maior liberdade de adaptação às diferentes velocidades em que as regiões desenvolverão a eletromobilidade.

Qual o papel do conjunto híbrido nesta tríade?

Ele exerce um papel muito importante – principalmente na convergência à eletromobilidade. Fomos o primeiro fabricante a oferecer ao mesmo tempo modernos conjuntos híbridos plug-in em três segmentos de luxo. No caso do Panamera, por exemplo, o modelo topo de linha mais possante é um híbrido. Nossos clientes estão satisfeitos: desde o lançamento, 60% de todos os Panamera entregues tiveram motorização híbrida. Em determinados países, essa cota foi até superada. Em 2025, está previsto que cada segundo Porsche novo terá um motor elétrico.

E depois disso?

Irão prevalecer os veículos elétricos. Motores de combustão continuarão existindo – em certas regiões ainda haverá muitos, e por muito tempo. Mas, a longo prazo, os motores movidos a eletricidade irão substituir gradualmente os motores de combustão.

For Porsche, the Taycan marks the beginning of a new era in mobility.

Atualmente, a indústria automobilística está mudando mais rápido do que nunca. Nos próximos cinco anos, haverá mais transformações do que nos últimos 50.

É por isso que estamos em vias de modificar profundamente nosso modelo de atividades: de um tradicional fabricante de automóveis para um fornecedor de soluções de mobilidade altamente inovador e moderno.

A cota de softwares nos veículos está crescendo incrivelmente. Não são poucos aqueles que acham que o automóvel do futuro será um smartphone sobre rodas. É exagero?

No mínimo, os softwares ganham cada vez mais espaço na cadeia de suprimentos. Eles determinam consideravelmente a potência e a curva característica de um veículo. Temos que transformá-los em uma competência-chave.

De onde o senhor pretende obtê-la? Dizem que a Europa não dispõe de uma indústria de TI suficientemente desenvolvida e apta para dar suporte a este processo de transformação.

Em todo o grupo Volkswagen, trabalham atualmente 5.000 especialistas no desenvolvimento de soluções e sistemas de TI para veículos. Não só a forma da colaboração, mas a composição do pessoal e o workflow nas unidades estão passando por mudanças radicais com a digitalização. O principal desafio da Porsche é de criar uma nova cultura digital e vinculá-la às nossas tradições, que, por sua vez, fazem parte da identidade de nossa marca. Para dar continuação ao êxito da empresa, será determinante vencer os obstáculos e permitir a criação de estruturas e processos organizacionais ágeis ao longo de todos os departamentos e seções.

E se não for possível avançar com forças próprias?

Neste caso, vamos em busca de talentos, onde quer que estejam. Acreditamos nas chances de uma cooperação com desenvolvedores digitais, startups e centros de inovação do mundo inteiro. Para isso, unimos nossas forças e possibilitamos modelos de trabalho compartilhado, estabelecendo plataformas e interfaces abertas. Nós nos beneficiamos deste potencial de inovação e contribuímos para elaborar um ecossistema digital. A Porsche se abre para deixar terceiros participarem, manter uma colaboração e trocar experiências com eles – quer seja com pessoas, startups ou empresas.

“No segmento de carros esportivos elétricos, não há nada comparável” Oliver Blume

Mais de 20.000 pessoas em todo o mundo já deram um sinal de interesse pela compra de um Taycan, sem sequer terem visto o veículo.

Surpreendente, não é? É por isso que estou convicto disso: quanto mais atraentes são os produtos, mais rápido a eletromobilidade será melhor acolhida.

Mas os clientes da Porsche ainda podem escolher.

Certo. Cada um deles deve obter o que deseja de nossa marca.

O que significa isso para cada série de modelos?

Existem quatro dimensões: a primeira delas é nossa dimensão de sucesso “Base”. Nela, analisamos quais segmentos valem a pena ter derivados. Por exemplo, o Cayenne Coupé. “Image” tem veículos muito esportivos e dotados com o gene do automobilismo, como nossos modelos GT e RS. Na dimensão “Lifestyle”, combinamos automóveis modernos com itens procurados que são de gerações antigas. Nela, temos o 911 Speedster. A dimensão “Future” abrange nossos modelos híbridos plug-in e 100% elétricos, como o Taycan, com alto grau de digitalização.

É grande a procura pelo Taycan. Pode-se recorrer a modelos pré-configurados?

Não fabricamos mais veículos padronizados, nem hoje nem no futuro. Cada cliente terá exatamente o Taycan que deseja.