Nível 6

O nível 5 é o grau mais alto da direção autônoma: sem motorista e sem volante. Em menos de dez anos a tecnologia necessária para isso deve estar pronta. E depois?

Como o nosso entendimento básico do automóvel irá se transformar, se futuramente o motorista puder optar entre dirigir pessoalmente ou deixar-se guiar?

Nível 1 - Assistida

O motorista é apoiado por sistemas como o Cruise Control ou o assistente de freio de emergência, mas não pode tirar as mãos do volante.

Será que no futuro os carros serão lounges sobre rodas? Ou será que ainda existe um nível além da atual escala de direção autônoma?

“Vamos com calma”, tranquiliza Albrecht Böttiger. “Primeiro temos ainda muito o que fazer para tornar os níveis 3, 4 e 5 possíveis em termos técnicos.” Böttiger, físico de formação acadêmica, dirige o centro de projetos da Porsche para sistemas de assistência e direção altamente automatizadas situado em Mönsheim, nas proximidades de Stuttgart. Com cerca de 150 especialistas, o centro desenvolve tecnologias de direção autônoma de forma interdisciplinar e interdepartamental. Nos escritórios trabalham jovens engenheiros, cuja maioria não aparenta ter mais do que 35 anos. Os espaços transmitem uma atmosfera de laboratório, no melhor estilo do Vale do Silício. O objetivo de Böttiger e seus colegas é claro: aplainar o caminho rumo à direção autônoma e desenvolver soluções para os níveis de automação 3 e 4, altamente complexos, que deverão dominar os primeiros veículos por volta do ano de 2022. Deste modo, para a implementação do nível 5 (o carro-robô autônomo), os fundamentos tecnológicos já estão preparados.

Isso ainda será “dirigir um carro”?

Nível 2 - Parcialmente automatizada

Funções como o sistema de aviso de afastamento de faixa ou o assistente de congestionamento apoiam o motorista, que, no entanto, deve sempre monitorá-los.

A missão terá sido cumprida quando o nível 5, de acordo com o modelo de etapas, tiver sido alcançado? “É claro que isso não é tão simples assim, principalmente para a Porsche. Afinal, táxis-robôs de 911 certamente não é o que almejamos”, esclarece Böttiger. Então será que a direção autônoma combina, afinal, com a Porsche? Sim, se a marca seguir seu próprio caminho.

Böttiger e sua equipe precisam pensar além do que o setor automotivo definiu como nível 5: nível 6. No entanto, esse construto não designaria tanto um patamar técnico, um cenário concreto de acordo com critérios bem definidos ou até mesmo o imperativo de uma continuação linear do nível 5. Em lugar disso, a etapa seguinte poderia objetivar uma mudança de consciência que respondesse à pergunta sobre como o nosso entendimento básico do automóvel irá se transformar, se futuramente o motorista puder optar entre dirigir pessoalmente ou deixar-se guiar. Ou, de preferência, voar.

Movimentando-se de modo autônomo pelas megacidades

Nível 3 - Condicionalmente automatizada

O computador pode assumir a direção em determinados trechos. O motorista, porém, deve ter tudo em vista e assumir rapidamente o volante quando solicitado.

Ou seja, a questão é: como queremos nos locomover amanhã e depois? A fim de investigar o humor e as expectativas dos clientes, legiões de pesquisadores de tendências e futurologistas estão trabalhando já hoje – inclusive para a Porsche. “Embora já saibamos aonde queremos ir até 2025”, afirma Böttiger. Até lá, os interiores poderão ter se transformado de tal forma, que os passageiros terão a possibilidade de se ocupar confortavelmente com outras coisas que não seja a direção. “Mas se você pensar em dez anos, já surgem imponderabilidades demais.” Quem teria previsto, uma década atrás, que o smartphone mudaria o comportamento humano de comunicação de maneira tão radical? Além disso, tendo em mente a digitalização e a urbanização mundiais, os mercados principais e seus universos de mobilidade devem ser considerados de uma maneira mais diferenciada.

Nível 4 - Altamente automatizada

O sistema domina situações definidas (trânsito urbano, estradas de interior, estacionamento) de modo totalmente autônomo e o motorista pode dedicar-se a outras coisas.

Especialistas como Böttiger preveem que a direção autônoma muito provavelmente comemorará sua estreia em megacidades asiáticas, em zonas cujo acesso será permitido exclusivamente a veículos de nível 5. “No caso do ocidente, os estudos demonstram para os próximos 15 a 20 anos sobretudo tendências à desaceleração e a um estilo de vida cada vez mais individualista.” Aqui observa-se também o desejo da desobrigação de dirigir, por exemplo, se o carro assumir uma série de trajetos, como ir autonomamente ao estacionamento mais próximo ou apanhar seu dono de manhã para levá-lo ao escritório. “Mais tempo, mais liberdade”, resume Böttiger. Nada será tomado dos motoristas de carro no futuro. Ao contrário, muito mais possibilidades lhes serão oferecidas. “Para uma marca como a Porsche, é decisivo que o avanço tecnológico seja bem-sucedido sem prejuízo da tradição da empresa.”

“Sensação de toque, design: a impressão geral de um Porsche não deve ser influenciada pela tecnologia que precisamos integrar no veículo” Albrecht Böttiger

Prazer na direção apesar da automação

Nível 5 - Totalmente automatizada

O carro dirige sem volante e resolve todas as tarefas de condução de modo autônomo, em quaisquer condições.

Será que o avanço da direção autônoma também não poderia desencadear uma reação contrária e um renascimento da vontade de dirigir pessoalmente? Certamente, acredita Böttiger. Sua tese é que estamos frente a uma polarização da forma de uso de veículos. Por um lado, o procedimento da direção automatizada irá dispensar as pessoas de ter que dirigir. Por outro, o puro prazer de dirigir ganhará vulto – a começar pelas voltas dadas em trajetos ricos em curvas até o automobilismo.

Ou seja, não é que o prazer de dirigir vá se perder só porque estamos sentados em um veículo autônomo, pensa Böttiger. “Pesquisamos intensivamente de que maneira um Porsche também poderá se destacar sob as condições dos níveis 4 e 5 – ou seja, quando o motorista dirigir de maneira passiva.” Por exemplo, através do conforto, da oferta de entretenimento digital ou de um interior requintado. Um teste de desempenho para os futuros modelos seria, por exemplo, verificar como um Porsche se sairia em uma estrada de passo. Curvas, estradas de traçado estreito e diferenças abruptas de altura representam para a técnica alguns dos mais difíceis desafios. “A maneira como o carro irá então dar conta do recado – de modo esportivo e dinâmico, ou seja, típico da marca – é o que deve caracterizar o caminho da Porsche”, adianta Böttiger. “Esta poderia ser exatamente a nossa interpretação do nível 6.” Ainda assim, proprietários de Porsche deveriam ter também no fututo a opção de assumir o volante em uma estrada de passo.

Frank Giese
Frank Giese